A Via Açoriana na
Educação*
Com a Serenidade e com a Segurança de quem teve e tem rumo
para tão importante sector da (e na) nossa sociedade.
Podia falar-vos do caminho percorrido mas sinto dispensável
porque a dinâmica social na educação, resultante dos investimentos e das
políticas adotadas, fala mais alto do que tudo o que eu elencasse aqui hoje.
Permitam-me que cite Vergílio Ferreira quando este afirmou
que “Uma verdade só o é quando sentida – não apenas quando entendida”. Assim é
o sector da Educação nos Açores. Todos nós sentimos no nosso dia-a-dia a
diferença que nos separa de há uma década atrás. E sentimos isso em inúmeras
situações, boas e más. Nas boas, quando amiúde é notícia que as crianças e
jovens do nosso sistema educativo regional participam em concursos nacionais e
internacionais, em projetos nacionais e internacionais e, trazem prémios e se destacam
e se classificam de modo a orgulharmo-nos da nossa juventude. Isto vale para o
ensino regular e profissional, já sem os estigmas de há tempos atrás.
Mas também o sentimos no drama do desemprego, porque na
maioria dos casos, quando nos deparamos com jovens à procura de emprego, o mais
frequente é ouvirmos e constatarmos que a sua formação já não se limita ao 1º
ciclo, nem ao 2º ciclo nem sequer ao 3º ciclo. Mas sim ao secundário concluído
e ao superior. É dramático e por sê-lo deixamos de nos animar por terem uma
escolaridade em muito diferente da realidade de há duas décadas atrás. Ou se
preferirem falemos só da última década (para que ninguém se melindre).
De acordo com os Censos, no universo de população residente
com mais de 15 anos, em 2001 tínhamos 9,2% com o secundário completo e em 2011
passamos a ter 12,3%; em 2001 no mesmo universo tínhamos 5,2% com o ensino
superior, em 2011 a % era já de 9,9 - quase o dobro.
Ah…mas e os resultados? E o insucesso? Interrogamo-nos todos.
E legitimamente. Porque queremos mais, porque sabemos que é importante fazer
mais para reduzir as assimetrias para vencermos os novos desafios.
Mas esse querer não pode derrubar o património educativo
construído. Esse querer é de todos nós, mas continua a caber ao Partido Socialista
liderar o projeto que se pretende inclua todos os agentes educativos, todos os
parceiros, todos os partidos que estiverem disponíveis para cooperarem.
Falemos então do que falta fazer, do que ainda falta atingir.
Mas para que se entenda o que ainda temos de percorrer é preciso ter
consciência do processo Educativo de uma Sociedade. Processo, enquanto percurso
traçado, delineado previamente. E é exactamente este traçado que cabe hoje aqui
apresentar, considerando o contexto global em que nos encontramos.
Toda a macro política educativa visa o sucesso educativo da
população. Mas tal só pode ser conseguido com as condições básicas criadas. E
essas, como é do conhecimento de todos os açorianos, foram sendo criadas ao
longo da última década e meia.
O sucesso educativo de uma sociedade, que como a nossa partiu
de patamares demasiado baixos, não se faz numa nem em duas gerações, faz-se com
planeamento e com visão a longo prazo. E se já fizemos, como indicam os mais
recentes relatórios europeus um longo caminho em bastante menos tempo que os
demais países, ainda temos que ser capazes de alcançar mais em menos tempo.
Num recente artigo de opinião do antigo ministro da educação,
Professor David Justino, intitulado «De quem são os resultados?» Ele começava
por dizer que “a publicitação de resultados escolares, quer os obtidos por
estudos internacionais quer os resultantes de provas nacionais, levanta sempre
a questão das “causas” e dos “responsáveis” que justificam a melhoria ou a
degradação dos indicadores revelados.” E mais adiante pode ler-se que “em
primeiro lugar os resultados são dos alunos. Da sua maior ou menor preparação
dependem os resultados. E quem os prepara? A família e a escola,
privilegiadamente, não sendo de menosprezar o papel dos próximos, da comunidade
onde se integra, mas também da organização do sistema de ensino e das políticas
educativas.”
Tendo em conta e, seguindo o conselho do Professor David
Justino, de fazer análise desapaixonada dos resultados, podemos interrogar-nos em
que ponto está o Sistema Educativo Regional nestas variáveis. Ora bem, as
políticas recentes criaram as condições infraestruturais, o corpo docente ficou
estável e muito bem capacitado, as crianças estão dentro do sistema educativo
desde os 3 anos de idade. Mas há uma variável onde ainda há muito a fazer, a
formação das famílias de forma a encararem e valorizarem a Escola como “o
melhor bem” para os seus filhos, a melhor “arma” para vencerem os desafios ao
longo da vida.
Nos mesmos estudos recentes, sobre os resultados educativos,
também fica demonstrado que os alunos provenientes de famílias com maior formação
são os que obtém melhores resultados. É, também por isso, que as políticas recentes
e aqui reiteradas pelo XI Governo da responsabilidade do Partido Socialista,
para se qualificar os adultos, são essenciais que decorram e continuem
paralelamente ao que a nível da formação inicial das nossas crianças e jovens é
feito.
Cientes que perante a globalização, não podemos nem devemos
blindar a sociedade estudantil açoriana ao mundo, se pretende que cada vez mais
cedo as nossas crianças e jovens estejam familiarizados com o que se revela
cada vez mais importante a ter em conta: as dinâmicas da globalização, os novos
equilíbrios económicos, a sustentabilidade ambiental e os seus desafios, as
vantagens e desvantagens do uso da internet, entre outros são alguns dos
conteúdos que têm que estar presentes dentro das nossas escolas desde cedo,
segundo uma publicação deste ano da OCDE, intitulada «As tendências moldam a
Educação».
Perante isso, assume relevância extrema os objectivos do XI
Governo no que à introdução de muitos destes conteúdos, os que são mais
marcantes para uma sociedade com as características da açoriana, no nosso
sistema educativo regional.
Esta introdução de conteúdos em paralelo com a remodelação e
melhor adequação dos instrumentos legislativos que o governo pretende efectuar,
com todos os agentes e parceiros educativos e forças políticas que se mostrem
disponíveis, ainda este semestre, permitirá uma situação de estabilidade no
sistema educativo regional para os próximos 4 anos.
A Educação foi e é uma prioridade nos Açores, ao contrário do
que acontece noutras paragens do nosso país, aonde sob a ameaça da Troika, impera a instabilidade e a
insegurança, não só na área da educação mas neste sector básico de formação de
uma sociedade adquire maior destaque. A última variável introduzida, na equação
de instabilidade nacional, prende-se com a intenção ou ensombramento de
despedir 10 mil docentes no continente português, como já não fosse suficiente
o apregoado corte de 4 mil milhões de euros de corte nas funções sociais, nas
quais se inclui a educação.
Estamos, como de resto sempre estivemos, convictos de que a
Educação nunca é uma despesa mas sim um investimento!
E é por isso que este plano continua a investir em todas as
áreas que à Educação dizem respeito com renovado enlevo, renovada convicção de
quem tem património educativo firmado e de que a Via Açoriana na Educação continuará a marcar a diferença, a nível
nacional, no que a políticas de educação diz respeito.
* Intervenção de tribuna, efetuada a 20mar'13 na ALRAA, sobre Educação a propósito do debate do Plano e Orçamento para 2013 e das OMP do XI Governo dos Açores