quinta-feira, 16 de maio de 2013

Cultura e Desporto

Cultura e Desporto da Ribeira Grande em alta ...


VOTO DE CONGRATULAÇÃO
Arcano Místico – Prémio Vasco Vilalva 2012

“Acabados os conventos,/ Quando a cólera do céu/ Põe entre o iluminado/ E o iluminante o seu véu,/ Vira na Ribeira Grande/ Em sacramento o eclipse/ Virando dano em Arcano/ A madre do Apocalipse./ Com massa de arroz e vidro/ A freirinha que é doceira/De ambrósias em biscuit,/ Desde a criação do mundo/ Vai até Getsémani.”

Citei Natália Correia, onde no seu poema “Arcano” ela descreve aquele que é hoje o único bem móvel classificado como tesouro regional (Decreto Legislativo Regional nº 9/ 2009/A de 3 de junho), o Arcano Místico.
O Arcano Místico, da autoria da Madre Margarida do Apocalipse, é uma obra do século XIX que, hoje totalmente recuperado e instalado na antiga casa onde residiu a sua autora, na cidade da Ribeira Grande, foi o vencedor do prémio Vasco Vilalva 2012 atribuído pela Fundação Calouste Gulbenkian no passado dia 3 de maio.
O Prémio Vasco Vilalva, da Fundação Calouste Gulbenkian, visa distinguir projetos de excelência na área da conservação, recuperação, valorização ou divulgação do património português.
Os anteriores premiados, a credibilidade e notoriedade nacional e internacional, indiscutíveis, da entidade que atribui o prémio contribuem para que nos orgulhemos ainda mais de um projeto que resulta da conjugação de esforços de várias instituições, a Confraria do Santíssimo Sacramento da Igreja Matriz da Sra. da Estrela (proprietária do Arcano), a Paróquia da Matriz da Sra. da Estrela (enquanto dona do imóvel) e a Câmara Municipal da Ribeira Grande que se empenhou contínua e afincadamente, na recuperação e valorização deste património, móvel e imóvel, liderando todo o processo que resultou no projecto agora premiado.
Falar no Arcano, como é conhecido, sem mencionar o Dr. Mário Moura seria uma imprecisão e uma injustiça, se atendermos ao facto deste Historiador ter dedicado mais de 20 anos, da sua carreira, ao estudo da vida e da obra da Madre Margarida do Apocalipse e das suas publicações resultantes desta pesquisa integrarem, também, o projecto.

É, em muito, graças ao esforço, persistência do Dr. Mário Moura e, porque não dizê-lo, espírito de missão, empenhados nessa investigação e à receptividade, dinâmica e capacidade de concretização da autarquia ribeiragrandense que os açorianos e todos os que nos visitam têm agora um espaço museológico com uma linguagem adequada e rigorosa que alberga o Arcano Místico, um Tesouro Regional (lembre-se que é o equiparado a monumento nacional) e que no seu conjunto constituem o projeto premiado.
Importa referir que o Arcano testemunha uma singularidade e raridade únicas não só pela originalidade do processo produtivo (milhares de figurinhas feitas de farinha de arroz, gelatina animal, vidro moído e goma arábica que se desenvolvem em três pisos, representando 92 quadros inspirados nos textos canónicos e apócrifos, na tradição, outras imagens e imaginação) mas também por se tratar da mais importante obra de arte feminina de tradição conventual açoriana única no contexto regional e nacional. Trata-se, ainda, de um bem de valor simbólico e religioso, extensão de testemunhos vários da memória colectiva regional.
Na carta enviada, pelo gabinete do presidente, da Fundação Calouste Gulbenkian lê-se: “o prémio foi-lhe atribuído pela qualidade do projecto e pelo resultado patente de recuperação deste curioso e insólito móvel, obra da Madre Margarida Isabel do Apocalipse, fruto de uma investigação sobre o contexto histórico e social em que foi realizado, conduzida por uma qualificada equipe. O júri teve, ainda, em consideração a qualidade do projecto de adaptação da casa para Museu do Arcano, do projecto museológico da mesma e da qualidade das publicações que acompanharam a sua abertura ao público. O júri reconheceu também o notável trabalho de restauro do conjunto e dos seus inúmeros pormenores, mas decidiu sobretudo distinguir uma obra de arte, de beleza naïve, mas ao mesmo tempo reflectindo conhecimentos de indumentária e iconografia eruditas, poética e quase surrealista.”
Pode, ainda ler-se: “o júri considerou que o prémio permitirá dar visibilidade nacional e internacional a este conjunto escultórico.”

Assim, e ao abrigo das disposições regimentais aplicáveis, o Grupo Parlamentar do Partido Socialista propõe que a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, reunida em sessão plenária no dia 16 de maio, aprove e emita um voto de congratulação pela atribuição do Prémio Vasco Vilalva 2012 ao Projeto de Recuperação e Musealização do Móvel do Arcano Místico, efectuada pela Fundação Calouste Gulbenkian.
Do mesmo deve ser dado conhecimento à Confraria do Santíssimo Sacramento da Igreja Matriz da Sra. da Estrela, à Paróquia Matriz da Sra. da Estrela, à Câmara Municipal da Ribeira Grande – solicitando a esta dê conhecimento do voto a todas as instituições e empresas envolvidas no projecto.

Termino como comecei, com Natália Correia: “Ó sibila da Ribeira,/ por isso a ribeira é Grande,/ do saber adiantado/ em humilde artesaneira/ não me escondes o tratado,/ ou não fosse eu do teu sangue./ Desse ramo de oliveira/ que no bico traz a pomba/ as folhas estão todas verdes./ Já não me afogo na onda.// margarida, margarita/ pérola do Apocalipse!/ Os da Capela Sistina/ riem-se dessa tolice?/ mas quando a matéria é prima/ modesto é o artífice.”




VOTO DE CONGRATULAÇÃO
Subida do Sporting Clube Ideal à II Divisão Nacional de Futebol

No passado dia 21 de abril o Sporting Clube Ideal granjeou o direito de participar na II Divisão Nacional de Futebol, que na próxima época se denominará Campeonato Nacional Seniores.
Ao vencer o Sport Clube Praiense, no Estádio Municipal da Ribeira Grande, o Ideal, como é conhecido, consagrou-se vice-campeão da III Divisão – Série Açores, alcançando a subida à II Divisão Nacional. Dessa forma, conseguiu o seu maior feito desportivo ao longo dos seus 82 anos de existência.
Essa vitória do Ideal e consequente subida de divisão é motivo de particular regozijo para todos os seus associados, dirigentes e desportistas que quotidianamente dão vida e constituem este clube. Mas é também extensivo a todos os que por este clube já passaram, em qualquer uma das condições referidas.
O Ideal foi fundado a 2 de fevereiro de 1931, pelos Senhores Manuel Morais da Costa e Gildo Furtado de Paiva e, em 1965, passou a denominar-se Sporting Clube Ideal quando se tornou a 132ª filial do Sporting Clube de Portugal.
O Sporting Clube Ideal desenvolveu e desenvolve, maioritariamente, a sua actividade na área do futebol, o que não impediu que o clube promovesse e acarinhasse outras modalidades, nomeadamente o atletismo e o ciclismo.
Presentemente, o Ideal aposta, de forma muito particular, nos seus escalões de formação de futebol, contribuindo assim para o incremento do gosto pela prática desportiva, promovendo simultaneamente a prevenção primária no concelho mais jovem da região, a Ribeira Grande.
Tem sido decisivo para a continuidade do Ideal a determinação, persistência e voluntarismo que alguns dos seus dirigentes e associados empenham na concretização dos objectivos do clube. E que, só assim, têm conseguido que o Clube seja merecedor de respeito e relevo muito para além do concelho, impondo-se no contexto desportivo regional e esperemos que a notoriedade continue a nível nacional, nesta nova etapa do Ideal.
No seu palmarés, além do feito agora alcançado, conta com a disputa, em três épocas consecutivas, da 3ª Divisão Nacional – Série Açores, de 1996 a 1999, proeza repetida nas épocas de 2001/2002 e 2012/2013. Conquistou a Taça de Honra de S. Miguel e a Taça Açores por mais do que uma vez, arrecadou, várias vezes, o título de Campeão de S. Miguel e, em 1989, conseguiu alcançar o título de Campeão dos Açores. Conta, ainda, com várias digressões aos Estados Unidos da América e Canadá, bem como inúmeras participações em torneios particulares disputados com clubes regionais e nacionais.
A actividade desportiva de modo permanente e consistente ao longo da sua existência e o seu particular e intenso empenho nos seus escalões de formação contribuíram de forma decisiva para que, em 2002, o Governo dos Açores atribuísse ao Sporting Clube Ideal o estatuto de Instituição de Utilidade Pública.
Assim, e ao abrigo das disposições regimentais aplicáveis, o Grupo Parlamentar do Partido Socialista propõe que a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, reunida em sessão plenária no dia 15 de maio, aprove e emita um voto de congratulação ao Sporting Clube Ideal pelo feito alcançado, a subida à II divisão nacional.
 Do mesmo deve ser dado conhecimento aos órgãos sociais do Clube.

sábado, 4 de maio de 2013

Saboreie com Prazer...

PANQUECAS - isso é receita para 2 doses (cerca 12 panquecas altas e fofas ou 24 finas e fofinhas)

A - Ingredientes
  •  240 g de farinha com fermento[1]
  •  150 g de açúcar
  •  6 ovos
  • 100 g de margarina[2]
  • 100 ml de leite[3]
  • sal refinado qb
  • raspa de limão ou de laranja - opcional

B – Modo de preparação

1 -  Misturar a farinha, açúcar e sal refinado;
2 - Juntar à mistura os ovos inteiros;
3 - Bater tudo bem (não é necessário usar batedeira mas se o fizer elas ficam mais fofas);
4 - Junta-se ao preparado a margarina derretida[4] e continua-se a bater até estar bem misturado;
5 - Ainda a bater, junta-se o leite (e a água se for o caso), bate-se até estar homogéneo – costuma ser rápido;
6 -  Aquece-se bem a frigideira (fundo antiaderente e liso de preferência[5]) retira-se o excesso de gordura com papel de cozinha;
7 - Coloca-se o líquido no centro da frigideira – com o auxílio de uma concha – e c a outra mão roda-se a frigideira para que o líquido espalhe bem e de forma homogénea;
8 - Quando os bordos estão louros, vira-se a panqueca com o auxílio de espátula larga de cozinha e fica mais 1 ou 2 minutos – sempre menos tempo do que o 1º lado;
9 - Retira-se e está pronta a ser devorada por alguma criança ou adolescente ou mesmo adulto acabado de acordar…J
Cá em casa faço-as primeiro e depois comemo-las mas claro que há furtos pelo meioJ e cada um terá o seu ritmo familiar próprio. Espero que fiquem boas e que vos agrade.
Ah…é normal que haja sempre uma (que tende muito a ser a primeira) ou outra que fique menos bem mas se tiverem cães ou gatos eles agradecem e quando se habituam já pedem as suas quando lhes sentem o cheiro J



[1] Também pode ser feito com farinha normal, elas ficam mais baixas e com sabor ligeiramente diferentes, boas para enrolar com vários recheios (fiambre, queijo, manteigas diversas, compotas, pasta de atum, etc.)
[2] Uso vaqueiro mas também uso manteiga normal ou metade metade- o que há em casa J
[3] Quando as faço com farinha normal, além do leite vou deitando água até estar um liquido pouco espesso para espalhar mais facilmente e ficarem mais finas
[4] Costumo derretê-la na frigideira que vou usar para fazer as panquecas e assim fica já untada
[5] Há quem tenha frigideira própria para isso, eu uso uma normal

sexta-feira, 22 de março de 2013

A Via Açoriana na Educação*

A Educação para os próximos anos traz-me aqui como me tem trazido sempre, com Serenidade!

Com a Serenidade e com a Segurança de quem teve e tem rumo para tão importante sector da (e na) nossa sociedade.

Podia falar-vos do caminho percorrido mas sinto dispensável porque a dinâmica social na educação, resultante dos investimentos e das políticas adotadas, fala mais alto do que tudo o que eu elencasse aqui hoje.

Permitam-me que cite Vergílio Ferreira quando este afirmou que “Uma verdade só o é quando sentida – não apenas quando entendida”. Assim é o sector da Educação nos Açores. Todos nós sentimos no nosso dia-a-dia a diferença que nos separa de há uma década atrás. E sentimos isso em inúmeras situações, boas e más. Nas boas, quando amiúde é notícia que as crianças e jovens do nosso sistema educativo regional participam em concursos nacionais e internacionais, em projetos nacionais e internacionais e, trazem prémios e se destacam e se classificam de modo a orgulharmo-nos da nossa juventude. Isto vale para o ensino regular e profissional, já sem os estigmas de há tempos atrás.

Mas também o sentimos no drama do desemprego, porque na maioria dos casos, quando nos deparamos com jovens à procura de emprego, o mais frequente é ouvirmos e constatarmos que a sua formação já não se limita ao 1º ciclo, nem ao 2º ciclo nem sequer ao 3º ciclo. Mas sim ao secundário concluído e ao superior. É dramático e por sê-lo deixamos de nos animar por terem uma escolaridade em muito diferente da realidade de há duas décadas atrás. Ou se preferirem falemos só da última década (para que ninguém se melindre).

De acordo com os Censos, no universo de população residente com mais de 15 anos, em 2001 tínhamos 9,2% com o secundário completo e em 2011 passamos a ter 12,3%; em 2001 no mesmo universo tínhamos 5,2% com o ensino superior, em 2011 a % era já de 9,9 - quase o dobro.

Ah…mas e os resultados? E o insucesso? Interrogamo-nos todos. E legitimamente. Porque queremos mais, porque sabemos que é importante fazer mais para reduzir as assimetrias para vencermos os novos desafios.

Mas esse querer não pode derrubar o património educativo construído. Esse querer é de todos nós, mas continua a caber ao Partido Socialista liderar o projeto que se pretende inclua todos os agentes educativos, todos os parceiros, todos os partidos que estiverem disponíveis para cooperarem.


Falemos então do que falta fazer, do que ainda falta atingir. Mas para que se entenda o que ainda temos de percorrer é preciso ter consciência do processo Educativo de uma Sociedade. Processo, enquanto percurso traçado, delineado previamente. E é exactamente este traçado que cabe hoje aqui apresentar, considerando o contexto global em que nos encontramos.

Toda a macro política educativa visa o sucesso educativo da população. Mas tal só pode ser conseguido com as condições básicas criadas. E essas, como é do conhecimento de todos os açorianos, foram sendo criadas ao longo da última década e meia.

O sucesso educativo de uma sociedade, que como a nossa partiu de patamares demasiado baixos, não se faz numa nem em duas gerações, faz-se com planeamento e com visão a longo prazo. E se já fizemos, como indicam os mais recentes relatórios europeus um longo caminho em bastante menos tempo que os demais países, ainda temos que ser capazes de alcançar mais em menos tempo.

Num recente artigo de opinião do antigo ministro da educação, Professor David Justino, intitulado «De quem são os resultados?» Ele começava por dizer que “a publicitação de resultados escolares, quer os obtidos por estudos internacionais quer os resultantes de provas nacionais, levanta sempre a questão das “causas” e dos “responsáveis” que justificam a melhoria ou a degradação dos indicadores revelados.” E mais adiante pode ler-se que “em primeiro lugar os resultados são dos alunos. Da sua maior ou menor preparação dependem os resultados. E quem os prepara? A família e a escola, privilegiadamente, não sendo de menosprezar o papel dos próximos, da comunidade onde se integra, mas também da organização do sistema de ensino e das políticas educativas.”

Tendo em conta e, seguindo o conselho do Professor David Justino, de fazer análise desapaixonada dos resultados, podemos interrogar-nos em que ponto está o Sistema Educativo Regional nestas variáveis. Ora bem, as políticas recentes criaram as condições infraestruturais, o corpo docente ficou estável e muito bem capacitado, as crianças estão dentro do sistema educativo desde os 3 anos de idade. Mas há uma variável onde ainda há muito a fazer, a formação das famílias de forma a encararem e valorizarem a Escola como “o melhor bem” para os seus filhos, a melhor “arma” para vencerem os desafios ao longo da vida.

Nos mesmos estudos recentes, sobre os resultados educativos, também fica demonstrado que os alunos provenientes de famílias com maior formação são os que obtém melhores resultados. É, também por isso, que as políticas recentes e aqui reiteradas pelo XI Governo da responsabilidade do Partido Socialista, para se qualificar os adultos, são essenciais que decorram e continuem paralelamente ao que a nível da formação inicial das nossas crianças e jovens é feito.

Cientes que perante a globalização, não podemos nem devemos blindar a sociedade estudantil açoriana ao mundo, se pretende que cada vez mais cedo as nossas crianças e jovens estejam familiarizados com o que se revela cada vez mais importante a ter em conta: as dinâmicas da globalização, os novos equilíbrios económicos, a sustentabilidade ambiental e os seus desafios, as vantagens e desvantagens do uso da internet, entre outros são alguns dos conteúdos que têm que estar presentes dentro das nossas escolas desde cedo, segundo uma publicação deste ano da OCDE, intitulada «As tendências moldam a Educação».

Perante isso, assume relevância extrema os objectivos do XI Governo no que à introdução de muitos destes conteúdos, os que são mais marcantes para uma sociedade com as características da açoriana, no nosso sistema educativo regional.


Esta introdução de conteúdos em paralelo com a remodelação e melhor adequação dos instrumentos legislativos que o governo pretende efectuar, com todos os agentes e parceiros educativos e forças políticas que se mostrem disponíveis, ainda este semestre, permitirá uma situação de estabilidade no sistema educativo regional para os próximos 4 anos.

A Educação foi e é uma prioridade nos Açores, ao contrário do que acontece noutras paragens do nosso país, aonde sob a ameaça da Troika, impera a instabilidade e a insegurança, não só na área da educação mas neste sector básico de formação de uma sociedade adquire maior destaque. A última variável introduzida, na equação de instabilidade nacional, prende-se com a intenção ou ensombramento de despedir 10 mil docentes no continente português, como já não fosse suficiente o apregoado corte de 4 mil milhões de euros de corte nas funções sociais, nas quais se inclui a educação.

Estamos, como de resto sempre estivemos, convictos de que a Educação nunca é uma despesa mas sim um investimento!

E é por isso que este plano continua a investir em todas as áreas que à Educação dizem respeito com renovado enlevo, renovada convicção de quem tem património educativo firmado e de que a Via Açoriana na Educação continuará a marcar a diferença, a nível nacional, no que a políticas de educação diz respeito.

* Intervenção de tribuna, efetuada a 20mar'13 na ALRAA, sobre Educação a propósito do debate do Plano e Orçamento para 2013 e das OMP do XI Governo dos Açores

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

A memória mais antiga da perplexidade e do encantamento


Acredito que nem sempre o ano de nascimento conta. Porque vivências e experiências precoces nos fazem mais velhos ou porque o modo como vivemos e os projectos que arquitectamos nos fazem mais jovens.
Neste caso, os 39 anos de Natal têm a ver com as memórias dessa época. Tinha 4 anos quando o menino Jesus me trouxe uma bicicleta com rodinhas. E esta é a memória mais antiga que tenho da perplexidade e encantamento que (ainda) gosto que marquem esta noite mágica.
Tão forte, quanto o encantamento e deslumbramento de receber o ansiado, foi a perplexidade. A dúvida instalou-se e tinha de ser esclarecida, como tinha sido possível que a bicicleta tivesse passado pela estreita chaminé e estivesse ali, junto ao meu sapatinho, intacta, linda, com as franjinhas que pendiam de cada lado do guiador limpinhas e luzidias. Fui junto ao fogão olhar para cima e verificar se a chaminé tinha vestígios ou marcas da descida, que poderia ter sido tudo, menos fácil. Mas nada, estava tudo como sempre. Inquiri! E a resposta, pronta, veio de um dos meus irmãos (com mais 17anos que eu) que convictamente me explicou que vinha tudo desmontado e que a montagem era feita na cozinha, muito rápida graças à magia, entre os ramos de criptoméria e cedro que forravam e perfumavam a cozinha habitualmente naquela noite.
Foi a minha apresentação à magia! Desde essa noite, até hoje, acredito que a magia nos surpreende anualmente à espera de fazer brotar um sorriso, melhor se riso for, e ar de surpresa e satisfação timbrado no rosto. Seja o menino Jesus, como sempre a minha mãe nos ensinou, ou o Pai Natal com ar de velho simpático e colorido que o séc. XX fez vingar na nossa sociedade (ainda) muito consumista. Ou, muito melhor ainda, alguém do nosso mundo dos afectos, que se empenha em surpreender-nos e nos provocar o sorriso ou a alegria que rapidamente se estampa na cara das crianças. Sabe tão bem esse aconchego de mimo. Pensar que se empenharam em escolher ou em fazer algo que nos agrade, determinados em esconderem o mais pequeno vestígio de suspeita para que a surpresa seja grande, para que o inesperado seja real e a alegria aconteça.
Claro que mesmo essa magia tem um reverso. Sabermos que há crianças a quem esta magia não chega. Porque a sociedade não permite condições para que os adultos responsáveis por elas se possam preocupar com isso ou sequer valorizar a importância do imaginário no desenvolvimento infantil ou porque os adultos sendo espartanos (pelo menos uma vez por ano) acham que as crianças devem saber desde cedo que a magia não tem lugar na Vida.
Tamanho erro! O imaginário é essencial para pequenos e graúdos. E só se o viverem em pequenos se tornam adultos empenhados e convincentes na passagem do testemunho aos pequenos seguintes.
Isto é Natal! Essa é a magia da figura simbólica que adquire formas humanas ou não. Mandam as leis do Castelo dos Afectos e do Mundo dos Mimos, que se faça uma declaração de Amor através de símbolos vulgares, pelo menos uma vez por ano.

Publicado no Mundo Açoriano a 23 de Dezembro de 2011

Educação para Todos



Nós não somos melhores do que os outros, mas somos diferentes. Diferentes nos princípios que defendemos, nas prioridades que assumimos e no empenho que lhe dedicamos. Trabalhamos muito melhor do que muitos. Disso não há dúvida.
Os Açores dispõem, hoje, de uma geração que, talvez pela primeira vez na História, não se sente isolada do mundo, mas, sim, como parte integrante de um mundo global, através do acesso às novas tecnologias.
Este é o capital mais valioso dos Açores. Na Educação, como em várias outros sectores, o Governo Regional foi arrojado, competente e mesmo inovador ao nível do país. São vários os exemplos em que liderámos, como no caso dos estatutos, em que o resto do país veio aos Açores beber os princípios e replicar as soluções.
Mas mais do que isso. Não segmentámos a Educação. O Ensino regular e o profissional não são, como já foram, antagónicos. Não são, como já foram, um para os bons alunos e o outro para quem não queria estudar.
Recusámos estes estigmas, valorizámos o ensino profissional, descentralizando e elevando-o ao patamar que os jovens formandos merecem e ao qual responderam com competência e prémios nacionais e internacionais nos concursos mais exigentes das profissões. Valorizámos cada aluno como ele é.
As escolas passaram a ser espaços de vivências múltiplas, quer ao nível dos conteúdos formais quer ao nível dos conteúdos informais que vão desde a prática desportiva às experiências artísticas, passando pelos ousados projectos de inovação e criatividade que têm granjeado prémios e reconhecimento nacional e internacional.
Os exemplos são vários: a Escola Secundária de Lagoa, reconhecida recentemente como escola mentora pela Microsof; a parceria que a Escola Básica e Secundária de Vila do Porto tem com a ESA[1] num projecto que consiste na construção de um mini satélite que representará Portugal em competição a realizar na Noruega; o aluno da Escola Vitorino Nemésio que ganhou 1 medalha de bronze ao representar Portugal nas Olimpíadas Internacionais de Física e Informática na Tailândia, em Julho; a obtenção do 3º lugar no projecto nacional “Se eu fosse cientista” pela equipa CSI[2] da Escola Secundária da Ribeira Grande em Maio.
A Educação foi e é uma prioridade nos Açores, ao contrário do que acontece noutras paragens onde, ao abrigo do guarda-chuva da Crise e da Troika, os cortes são de tal ordem que só podem ser sinónimo de desorientação e falta de estima e cuidado para com a educação e o ensino público.
Estamos, como de resto sempre estivemos, convictos de que a Educação nunca é uma despesa mas sim um investimento, assumido com orgulho pelos governos do PS/A.
Há que registar, com agrado, que o (ainda) maior partido da oposição nos Açores está em plena sintonia com as políticas educativas implementadas pelos governos do PS/A. Essa presunção concretiza-se no facto de que nos 3 anos que agora esta legislatura perfaz, o PSD só apresentou um projecto de resolução na área da educação, ao recomendar um estudo sobre o bullying nas nossas escolas.
Perante isto, é licito concluirmos que estrutural e operacionalmente estão inteiramente de acordo e mais, sem nenhum contributo que permita melhorias no sistema educativo regional.
Mas é o mesmo PSD que no Governo da República, mal chegou ao poder, cortou a torto e a direito na Educação. Parou a requalificação do parque escolar, cortou drasticamente no número de professores mesmo que para isso esteja a equacionar a extinção de disciplinas, fusão de outras, diminuição de carga lectiva de outras ainda, fazendo um retrocesso que só encontra paralelo na reforma feita durante o Estado Novo, onde todos sabemos que relativamente à educação bastava saber ler e escrever.
O PS/A coerente consigo próprio reitera o que afirmou no seu programa eleitoral de 2008: qualquer governação responsável terá necessariamente consciência de que os grandes problemas da educação serão sempre problemas sem uma solução definitiva: todas as vezes que se julga atingir o objectivo pretendido e anteriormente definido, novos desafios, que é necessário avaliar, enquadrar e definir como novos objectivos, se perfilam no horizonte. A realidade mudança é, também ela, determinante.

Publicado no AO a 13 de Dezembro de 2011


[1] ESA – European Space Agency
[2][2] CSI – Cientistas Sob Investigação